#RPSP 20/04/2025
Gênesis 4 – A religião sem obediência
“Então o Senhor disse a Caim: Se você fizer o bem, não será aceito? Mas, se não fizer o bem, o pecado jaz à porta, e o seu desejo será contra você; mas é preciso dominá-lo.” (Gn 4:7)
Gênesis 4 narra o primeiro culto fora do Éden, e também o primeiro assassinato. Caim e Abel, filhos de Adão e Eva, representam duas posturas diante de Deus: a obediência que vem da fé e a adoração vazia, fruto de um coração orgulhoso. A partir daqui, o pecado começa a se espalhar de forma trágica, mas a graça de Deus continua oferecendo redenção.
O verso 3 diz:
“Ao fim de uns tempos, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.”
A expressão hebraica מִקֵּץ יָמִים (miqqets yamim) pode significar “com o passar do tempo” ou “em ocasião determinada”. A ideia é que esse culto foi intencional e solene. Ambos sabiam o que estavam fazendo.
Caim ofereceu produtos agrícolas. Abel, “as primícias do seu rebanho e a gordura” (v.4). O texto não condena a agricultura, mas destaca que Abel trouxe o melhor, conforme a orientação divina, enquanto Caim trouxe o que quis, do seu jeito.
Deus aceitou Abel e sua oferta, e não Caim e sua oferta. O hebraico deixa claro que Deus olha primeiro para a pessoa, depois para o que ela oferece:
“E atentou o Senhor para Abel e por sua oferta, mas para Caim e sua oferta não atentou.” (v.4-5)
O versículo 7 é chave:
“Se fizeres o bem, não serás aceito?”
Aqui, o verbo שָׂאֵת (sā’et) carrega a ideia de ser “elevado”, “aceito”, “digno”. Deus está dizendo a Caim que a aceitação depende da conduta, não da preferência pessoal.
O “pecado jaz à porta” (חַטָּאת רֹבֵץ, chattat rovets) é uma imagem de um animal predador, agachado, esperando o momento de atacar. A palavra “desejo” (תְּשׁוּקָה, teshuqah) aparece em Gênesis 3:16 também, indicando um impulso dominador. O pecado deseja dominar, mas o homem deve dominá-lo.
Caim não ouve a voz de Deus. E então, premedita o assassinato de seu irmão (v.8). Não foi um crime impulsivo, foi teológico, passional e deliberado.
Na tradição mesopotâmica, os deuses exigiam oferendas agrícolas como tributos. O culto era transacional. Em Gênesis 4, Deus não precisa da oferta, mas deseja o coração do adorador.
As primeiras civilizações urbanas, como em Eridu, Uruk e Enoque (v.17), mostram cidades com centralização de poder e culto. O nome da cidade construída por Caim e dada a seu filho Enoque pode representar uma tentativa de imortalização humana, uma torre de orgulho contrastando com a vulnerabilidade da vida fora do Éden.
Caim representa todo adorador que quer fazer as coisas à sua própria maneira, ignorando o princípio da obediência pela fé.
Abel representa o adorador que oferece o que Deus pediu, com o coração quebrantado.
Deus aceita o adorador antes da oferta. Hoje, antes de orar, louvar ou servir… pergunte: “Estou obedecendo ou apenas oferecendo?”
Peça a Deus que o ajude a dominar o pecado que ronda o seu coração. O sangue de Abel clamou da terra… mas o sangue de Cristo fala mais alto (Hebreus 12:24).

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