#RPSP 01/05/2025
Gênesis 15 / Crer quando ainda não se vê
“Ele creu no Senhor, e isso lhe foi atribuído para justiça.” (Gn 15:6)

Depois da vitória militar e da bênção de Melquisedeque, Abrão parece forte. Mas no silêncio da noite, suas dúvidas ressurgem:
E quanto à promessa?
E quanto ao herdeiro que ainda não veio?
Gênesis 15 é um dos capítulos mais importantes da Bíblia, pois aqui Deus firma Sua aliança com Abrão de forma visível, solene e profética, e a fé de Abrão se torna modelo para toda a história da salvação.

“Não tenha medo, Abrão! Eu sou o seu escudo, e sua recompensa será muito grande.” (v.1)
Essa é a primeira vez que Deus diz “Não temas” na Bíblia, um tema que ecoará dezenas de vezes.
A palavra “escudo” (מָגֵן / magên) transmite a ideia de proteção ativa em batalha.
A “recompensa” (ou “galardão”) não está nos bens, mas na presença de Deus.

“Senhor Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos…?” (v.2)
Abrão não duvida da promessa, mas questiona o silêncio de Deus diante da realidade.
A resposta divina é visual e memorável:

“Olhe para o céu e conte as estrelas… Assim será a sua descendência.” (v.5)
Em vez de criticar sua dúvida, Deus amplia sua fé com uma imagem impossível de esquecer.
O céu estrelado da Palestina se torna a cartilha de fé de um velho sem filhos.

“Ele creu no Senhor, e isso lhe foi atribuído para justiça.” (v.6)
Este versículo é um pilar da teologia bíblica.
O verbo הֶאֱמִן (he’emin) vem da raiz אָמַן (’aman), que significa “firmar-se”, “estabilizar-se”. Abrão se firmou na promessa, não na evidência.

E Deus creditou isso como justiça.
Paulo cita esse texto em Romanos 4:3, mostrando que a salvação sempre foi pela fé, e não por obras.
Abrão creu, e isso o tornou justo diante de Deus.

“Tome uma novilha, uma cabra, um carneiro…” (v.9)
Esse ritual era comum nas alianças do Antigo Oriente: os animais eram partidos ao meio e as partes contratantes passavam entre eles, simbolizando: “que isso aconteça comigo se eu quebrar a aliança.”

Mas em Gênesis 15, algo impressionante acontece:

“Um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo passaram entre aquelas metades.” (v.17)
Só Deus passa. Abrão dorme.
Essa é uma aliança unilateral. Deus jura por Si mesmo que cumprirá Sua promessa.

Isso revela a fidelidade absoluta de Deus. Ele não depende da nossa força para manter Suas promessas.

“Naquele dia o Senhor fez aliança com Abrão…” (v.18)
O termo hebraico para “fazer aliança” é literalmente traduzido como “cortar aliança” (כָּרַת בְּרִית / karat berit).
Essa aliança inclui a promessa da terra e antecipa os eventos que virão no Egito (v.13-16), apontando para a soberania de Deus sobre tempo, nações e gerações.

Textos do antigo Oriente Médio (como os tratados hititas e as alianças assírias) usavam rituais semelhantes aos descritos aqui. Mas o que distingue Gênesis 15 é que:

• Só Deus se compromete,
• A iniciativa parte dEle,
• E o conteúdo envolve redenção, descendência e missão.

Às vezes, mesmo os fiéis mais sinceros passam por noites escuras em suas vidas.
A fé de Abrão não era cega, mas radicalmente confiante no caráter de Deus.

Você crê apenas quando vê, ou tem coragem de se firmar na promessa mesmo quando tudo parece impossível?

Ore hoje como Abrão: com sinceridade, e disposto a confiar mesmo no silêncio.
Deus ainda está cortando alianças com aqueles que creem.

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Julio Cesar Ribeiro é pastor e professor.
Possui graduação em Teologia, Especialização e Mestrado em Teologia Bíblica, Mestrado em Teologia Cristã e atualmente cursa programa de Doutorado em Teologia Bíblica.
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