#RPSP 02/05/2025
Gênesis 16 / O Deus que vê
“Então ela invocou o nome do Senhor, que lhe falava: Tu és Deus que vê; pois disse: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê?” (Gn 16:13)
Depois da aliança poderosa e da promessa garantida em Gênesis 15, Gênesis 16 revela a fragilidade humana diante da espera.
Sarai, incapaz de conceber, propõe uma “solução cultural”, e Abrão, em vez de confiar, aceita. O resultado é conflito, dor… e um encontro surpreendente entre uma escrava egípcia grávida e o Deus que vê o invisível.
“Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos…” (v.1)
A esterilidade, nos tempos bíblicos, era socialmente devastadora.
Mas nesse caso, ela também coloca à prova a fé na promessa divina.
“Toma, pois, minha serva; talvez eu venha a ter filhos por meio dela.” (v.2)
O uso de servas como substitutas era costume legal comum na Mesopotâmia, como mostram registros em Nuzi e Mari.
Mas o texto bíblico não legitima o costume, apenas o relata.
A grande questão aqui é: a fé pode ser substituída pela pragmática humana?
“Abrão atendeu à voz de Sarai…”
Esse verso ecoa o erro de Adão que “atendeu à voz de Eva” (Gn 3:17).
Em vez de liderar pela fé, Abrão cede à pressa do coração humano.
“Quando ela viu que estava grávida, desprezou sua senhora.” (v.4)
Agar agora se sente superior, e a tensão toma conta.
Sarai culpa Abrão (v.5), e ele abdica da liderança mais uma vez.
“Agar fugiu de sua presença…” (v.6)
A escrava grávida caminha sozinha rumo ao deserto, na direção do Egito.
Ela é mulher, estrangeira, grávida e escrava… a mais invisível das pessoas.
Mas Deus a vê.
“O anjo do Senhor a encontrou junto a uma fonte…” (v.7)
Esse é o primeiro uso da expressão “anjo do Senhor” na Bíblia.
Muitos estudiosos consideram essa figura uma manifestação teofânica, uma aparição pré-encarnada do próprio Cristo.
É impressionante: Deus não aparece a Sarai ou a Abrão nesse capítulo, mas sim à escrava desprezada.
“Tu és El-Roi, Deus que vê!” (v.13)
Agar é a única mulher na Bíblia que dá um nome a Deus.
Seu testemunho é eterno:
Deus vê os esquecidos. Deus busca os que fogem.
Os registros das cidades de Nuzi (séc. XV-XIV a.C.) mostram que era legal transferir direitos de maternidade à senhora da casa por meio de uma serva.
Mas a Bíblia subverte a cultura ao mostrar que Deus não legitima o abuso da fé para fins pessoais, e ainda mais, Ele intervém a favor dos oprimidos.
O poço é chamado Beer-Laai-Roi (בְּאֵר לַחַי רֹאִי), “Poço Daquele Que Vive e Me Vê”, e reaparecerá mais tarde na história de Isaque (Gn 24:62).
Gênesis 16 nos lembra que fé apressada é fé distorcida.
Mas, ainda assim, Deus age com misericórdia.
Ele vê a serva. Ele ouve o clamor. Ele dá um nome à criança: Ismael (Deus ouve).
Você está tentando “ajudar” Deus a cumprir Suas promessas com seus próprios métodos?
Hoje, peça ao Senhor que fortaleça sua fé para esperar o tempo dEle.
E lembre-se: se você se sente invisível, Deus ainda está dizendo: “Eu sou o Deus que te vê.”
Julio Cesar Ribeiro é pastor e professor.
Possui graduação em Teologia, Especialização e Mestrado em Teologia Bíblica, Mestrado em Teologia Cristã e atualmente cursa programa de Doutorado em Teologia Bíblica.
Para saber mais sobre o autor, clique aqui.

Deixe um comentário