#RPSP 04/05/2025
Gênesis 18 / Quando Deus entra em nossa casa
“Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil? Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a você, e Sara terá um filho.” (Gn 18:14)
Gênesis 18 apresenta dois grandes temas:
- O cumprimento iminente da promessa de um filho a Abraão e Sara,
- O anúncio do juízo sobre Sodoma e Gomorra.
Mas o capítulo começa de forma surpreendente: Deus aparece como hóspede em uma tenda. O eterno visita o cotidiano, e a fé de Abraão se manifesta não só no altar, mas também no modo como ele serve.
“O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhais de Manre…” (v.1)
Essa teofania se dá num contexto doméstico e informal, em contraste com as manifestações dramáticas do Sinai.
Abraão vê três homens (v.2), mas o texto os trata ora no plural, ora no singular, uma forma literária de sugerir a presença divina entre eles.
Essa ambiguidade teológica foi interpretada por muitos pais da igreja como uma pré-figura da Trindade, mas o texto hebraico se concentra em mostrar a revelação do Senhor de forma relacional e acessível.
“Correndo ao encontro deles… apressou-se… pegou manteiga e leite…” (v.6–8)
A hospitalidade no Oriente Antigo era uma obrigação moral, mas Abraão vai além:
ele serve com reverência e generosidade.
A fé verdadeira se expressa no serviço.
“Voltarei a você… e Sara terá um filho.” (v.10)
A promessa se repete com mais precisão. E desta vez, Sara ouve, e ri.
“Sara riu consigo mesma…” (v.12)
O verbo צָחַק (tzachaq) é o mesmo que dará nome ao filho: Isaque (יִצְחָק / “ele ri”).
Mas o riso de Sara é de incredulidade misturada com esperança reprimida.
O Senhor, que conhece o coração, pergunta:
“Por que Sara riu? Haveria coisa demasiadamente difícil para o Senhor?” (v.13–14)
Essa pergunta é central para todo o capítulo, e para toda a nossa vida de fé.
O termo hebraico פָּלָא (pala’) sugere algo extraordinário, maravilhoso, miraculoso.
A ideia é: se Deus prometeu, então o impossível é apenas questão de tempo.
A segunda parte do capítulo muda o foco para Sodoma:
“Ocultarei de Abraão o que estou para fazer?” (v.17)
Deus trata Abraão como amigo (cf. Is 41:8; Tg 2:23).
Ele o convida a participar de um diálogo profético sobre justiça e misericórdia.
“Não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (v.25)
A ousadia de Abraão em interceder mostra um coração moldado pela graça.
Abraão não defende o pecado de Sodoma, mas pede misericórdia por causa dos justos.
Ele negocia com Deus, reduzindo o número de justos de 50 para 10. Isso mostra:
A gravidade da condição de Sodoma (nem 10 justos!),
Mas também a disposição divina de poupar, se houver arrependimento.
As ruínas de cidades como Bab edh-Dhra e Numeira, localizadas ao sul do Mar Morto, mostram vestígios de destruição súbita, intensa e por calor extremo, reforçando a plausibilidade histórica do juízo divino sobre Sodoma e Gomorra.
Além disso, as práticas de hospitalidade, como lavar os pés, oferecer pão fresco, carne e leite, são bem documentadas em registros culturais do 2º milênio a.C.
Gênesis 18 mostra que o mesmo Deus que julga é o Deus que visita, conversa e promete. Ele é próximo e justo ao mesmo tempo.
Deus continua visitando tendas.
Ele se revela no comum, e testa nossa fé diante do improvável.
Mas Ele também nos chama para interceder, servir e confiar.
Você está disposto a receber Deus na sua rotina, e confiar que nada é difícil demais para Ele?
Ore hoje pedindo olhos de fé para reconhecer a visitação divina, e coragem para interceder como Abraão, mesmo por cidades que parecem perdidas.
Julio Cesar Ribeiro é pastor e professor.
Possui graduação em Teologia, Especialização e Mestrado em Teologia Bíblica, Mestrado em Teologia Cristã e atualmente cursa programa de Doutorado em Teologia Bíblica.
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