#RPSP 22/04/2025
Gênesis 6 – Corrupção global vs. graça pessoal
“Porém Noé achou graça diante do Senhor.” (Gn 6:8)
Gênesis 6 marca uma transição drástica na história humana. A humanidade, criada para refletir a imagem de Deus, mergulha em violência e corrupção. Mas no meio da escuridão moral, surge uma luz: Noé encontrou graça diante de Deus. Esse contraste entre o mundo e Noé nos mostra que, mesmo em tempos de decadência, a graça ainda encontra seus alvos.
O capítulo começa com um trecho enigmático:
“Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas…” (v.2)
A expressão “filhos de Deus” (בְּנֵי הָאֱלֹהִים / bene haElohim) tem três principais interpretações:
- Anjos caídos (baseado em Jó 1:6; 2:1) – tradicional em escritos judaicos intertestamentários.
- Descendentes de Sete (a linhagem piedosa) – interpretação comum entre cristãos primitivos e pais da Igreja.
- Homens poderosos ou reis déspotas, usando um título divino para si mesmos – alinhado à prática de reis do Oriente Próximo se chamarem “filhos dos deuses”.
No contexto de Gênesis e do capítulo anterior, a leitura mais coesa dentro da teologia bíblica é a segunda: os descendentes fiéis se misturaram com os infiéis, e o resultado foi uma degradação espiritual profunda, que culminou em depravação moral.
“A maldade do ser humano havia se multiplicado…” (v.5)
A palavra רַבָּה (rabbah) indica acúmulo, exagero, excesso… o mal se tornou institucionalizado.
Deus “viu” (כִּי רַבָּה רָעַת), um paralelo trágico à criação, quando Ele via que “tudo era bom”.
O verso 6 afirma que Deus “se arrependeu” (וַיִּנָּחֶם / vayyināchem) de ter criado o homem. O verbo, do radical נחם (nacham), carrega o sentido de sofrer uma profunda dor interna, não uma mudança de plano como um humano errante, mas uma resposta emocional intensa.
Deus sofre com o pecado do ser humano.
Mas então vem o contraste: “Noé achou graça (חֵן / chen) diante do Senhor.”
Esse é o primeiro uso da palavra “graça” na Bíblia. Noé não era perfeito (v.9 deixa claro que ele era justo em sua geração, ou seja, em comparação com a corrupção ao redor), mas recebeu o favor imerecido de Deus.
“Andava com Deus” (v.9), mesma expressão usada para Enoque. Noé foi o novo elo entre o céu e a terra.
Relatos de dilúvio são comuns nas culturas antigas do Oriente Médio. O mais famoso é o Épico de Gilgamesh, onde os deuses decidem destruir a humanidade por capricho. O sobrevivente, Utnapishtim, engana os deuses para escapar.
O relato bíblico, porém, apresenta um Deus santo, justo e compassivo, que salva porque ama, e não por ter sido enganado. O dilúvio bíblico é um juízo com propósito moral, não um desastre mitológico.
A arca de Noé não era um barco para navegar, mas uma caixa (תֵּבָה / tevah), mesma palavra usada para o cesto de Moisés (Êx 2:3). Era um refúgio da graça, sustentado por Deus.
Vivemos dias semelhantes aos de Noé (Mt 24:37-39). Corrupção, violência, imoralidade… mas Deus ainda oferece graça àqueles que desejam andar com Ele.
Você tem buscado andar com Deus em meio à corrupção do mundo?
Peça hoje ao Senhor que faça de sua vida uma arca, um espaço de obediência e graça no meio de uma geração em crise.

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